Ana Maria Uribe por Jorge Luiz Antonio

Originally published online at Officina do Pensamento

 

português - english - español

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENTREVISTA COM ANA MARIA URIBE
por Jorge Luiz Antonio


           Tenho a grata satisfação de iniciar a seção de entrevistas de Officina do Pensamento com os poetas que usam os recursos eletro-eletrônico-digitais como forma de comunicação poética.

           Alguns traços básicos caracterizam essa poesia: a intensa comunicação com poetas dos mais diferentes países através de correios eletrônicos, grupos de discussão e navegação em sites; grande parte deles também usa o meio impresso; eles todos são, acima de tudo, poetas, independentemente dos meios que usa; muitos deles participam de projetos coletivos, fazem trabalhos em grupo, e muitas vezes só se conhecem por fotografia e textos em correios eletrônicos; e muitas coisas mais.

           Minha primeira entrevistada é Ana Maria Uribe, que mora na Argentina, e se considera uma poeta visual que usa recursos eletrônicos.

           Suas obras impressas e eletrônicas são bilíngües: o livro Tipoemas y Anipoemas / Typoems and Anipoems (2001, Buenos Aires), o CD-ROM Escaleras y otros Anipoemas / Ladders and Other Anipoems em suas duas edições (Buenos Aires, 2001 e 2002) e o sítio Tipoemas y Anipoemas (1997-2003), vispo.com/uribe).

           As traduções, tanto do português para o espanhol, como do português e/ou espanhol para o inglês, foram gentilmente feitas pela entrevistada, a quem agradeço. Fiquei encarregado da tradução do espanhol para o português. Optamos por fazer a entrevista nessas três línguas, porque gostaríamos de compartilhar o conteúdo desta conversa com os leitores eletrônicos de Officina do Pensamento, com os nossos "web friends" do "egroup" Webartery (Canadá e mundo), e com os povos de língua espanhola.

* * *

 

Officina - Nós nos conhecemos via Internet há algum tempo e eu quase fui seu apresentador oficial para participar do grupo Webartery, mas o Jim Andrews me antecipou. Isso me fez lembrar uma afirmação do Komninos Zervos, da Austrália, em 2001, quando ele estava ansioso para conhecer os artistas e poetas digitais cujas obras ele admirava muito: "let's face emails". Nós todos estamos nessa comunidade eletrônica e fazemos muitos amigos através dela. Eu, inclusive, já fiz vários trabalhos artísticos com a Fatima Lasay, das Filipinas, e com a Regina Célia PInto, do Brasil, sem conhecê-las a não ser através de fotografia.
Você acredita que esse contato eletrônico traz novas inspirações para a sua poesia?

AMU - Mais do que dar-me inspiração, conhecer outros poetas digitais através da Rede, ele me ensina coisas que ignoro, pois, como digo em outra parte, a inspiração me vem das próprias letras. Na realidade, nunca fiz uma obra em colaboração, embora tenha feito alguns trabalhos especialmente para diferentes sítios, como Zoo para The Banner Art Collective (bannerart.org) e Deseo - Desejo - Desire (ce.canberra.edu.au/inflect/01/uribe/eroticos.swf), para Muriel Frega, que estava construindo uma página sobre o desejo. O intercâmbio em lugares como Webartery me faz ver uma série de coisas que, de outro modo, talvez não tivesse conhecido ou provado nunca, como o "Director", com o qual eu fiz um CD-ROM de minha obra.

 

Officina - Vou tornar esta entrevista hipertextual, porque pretendo que o leitor eletrônico de "Officina do Pensamento" também tenha acesso à entrevista que você concedeu a Megan Sapnar para "The Iowa Review Web": uiowa.edu/~iareview/tirweb/feature/uribe/uribe.html.
O título da entrevista - "The Letters Themselves" - e o conteúdo estão muito bem elaborados.
Você gosta de fazer entrevistas e as considera como uma forma de refletir sobre a sua poesia? Desde a entrevista a Megan Sapnar, novas idéias ou propostas poéticas surgiram?

AMU - A resposta a ambas as coisas é sim. As entrevistas ajudam a fixar conceitos, sobretudo em meu caso, já que sou bastante preguiçosa e pouco dada às elaborações teóricas.

E, sim, desde aquela entrevista, tive algumas mudanças.

Primeiro, meu uso da matéria (isto é, das letras) se fez mais livre.

A entrevista foi no início de 2002, ou seja, há um ano. Antes (digamos até meados de 2001), me sentia um pouco comprometida com minha formação minimalista, possivelmente derivada da estética de Bauhaus, na qual me criei. Por isso aparecida somente um tipo de caracteres, e apenas dois ou três destes, vale dizer, por exemplo, um P ou um R, porém nunca todo o abecedário em um mesmo poema. Com El Circo (vispo.com/uribe/2000/circo/index.html), que realizei a partir da segunda metade de 2001, não somente comecei a usar todo o alfabeto, mas também modifiquei inclusive a forma das letras, o que havia sido tabu para mim em 1999, algo assim como uma falta de rigor.

Segundo, a partir de El Circo o som começou a adquirir maior importância, até que se tornou imprescindível em obras como Ensayo de orquestra (vispo.com/uribe/2002/ensayo.html) ou Disciplina (vispo.com/uribe/disciplina/disciplina.html).

Terceiro, em 2002 os poemas começam a ter uma trama. Há uma linha de tempo com um começo, um ponto culminante e um desenlace. Em Disciplina, os personagens são os mesmos que já aparecem em El circo, mas aqui estão submetidos à tirania de um cruel ditador.

Quarto e último, volto à palavra.

Quando comecei os Anipoemas em 1997, gradualmente fui deslocando as palavras das letras. Somente Hojas rojas secas (1997, vispo.com/uribe/hojas2.html) continha palavras. Descobri que as letras podiam ficar independentes, tinham vida própria. Durante cinco anos as letras foram as protagonistas de minhas obras.

Então comecei a me preocupar. As letras se desagregariam também em fragmentos cada vez mais pequenos - como havia acontecido com as palavras - e deixariam, por fim, de existir? Em lugar de permanecer abrigadas no cálido seio da palavra se atomizariam e desapareceriam para sempre?

Então surgiu Deseo - Desejo - Desire, que assinala meu retorno à palavra.

 

Officina - É comum os dados biográficos conterem algumas outras referências (profissão, formação, etc.), além das obras. Às vezes, isso representa uma forma de entender a obra e o autor. Eu gostaria de saber, por exemplo, se a sua formação profissional tem contribuído para o aprimoramento da sua poesia.


AMU - Minha formação terminou de forma bastante abrupta, quando passei da educação mais estrita à liberdade total. Depois do secundário em um colégio de monjas irlandesas, estudei Filosofia na Universidade Católica de Buenos Aires durante dois anos. No terceiro ano obtive duas bolsas de estudo que me permitiram viajar para a Europa e principalmente a Paris. Tinha nesse momento vinte anos. A partir daí meu maior interesse esteve nas viagens, e nunca pude voltar a sujeitar-me a um programa de estudos que me exigisse dedicação.

Porém, sem dúvida, foi o meio em que nasci que mais contribuiu para o desenvolvimento de minha obra. Meu pai, além de engenheiro civil, era escritor e crítico de arte. Por ele conheci a revista Diagonal Cero, dedicada à poesia visual, que Eduardo Vigo publicava aqui, em La Plata. Ainda em épocas mais recentes, em 1990, foi ele quem me presenteou com o Diccionario de los Jázaros, tão relacionado com o hipertexto, quando eu, todavia, nem sonhava em fazer poesia com o computador. De modo que, em casa dos meus pais, era comum falar sobre esses temas.

 

Officina - Eu conheço alguns dos seus trabalhos em diversos meios: o livro impresso, duas edições de um cd-rom e o seu site. Você publicou outras obras?

AMU - Pelas mesmas características do gênero, fiz diversas provas em meios diferentes. Por exemplo, Hojas Rojas Secas foi um dos meus velhos Tipoemas, escritos com a máquina de escrever Lettera 22 no tipo Pica, semelhante ao Courier. Mais tarde quis fazer com ele um filme em 8 mm, que ficou pela metade, e logo um cartaz, para o qual comprei selos de goma com letras. Eram letras estranhas, que não correspondiam a nenhuma tipografia padrão. Em 1997, quando comprei meu primeiro computador e comecei os Anipoemas, copiei as letras do cartaz desenhando-as uma por uma com o Coreldraw e armei um poema animado, assim a obra já completou trinta anos em meios e versões diferentes.

 

Officina - A sua poesia impressa apresenta uma estrutura semelhante à da poesia eletrônica (cd-rom ou web) e mostra um domínio da tecnologia a serviço da poesia. Como é a relação da poesia com a tecnologia para você?

AMU - Eu me defino como uma poeta visual que usa os meios eletrônicos. Vale dizer que não sou uma "web" artista plena. Continuo sendo, antes de tudo, uma poeta visual. Minhas obras eletrônicas mais antigas são "gifs" animados, e as mais recentes, animações Flash ou Director. Não tenho usado até agora interatividade nem generatividade, por que não me tem ocorrido um bom motivo para fazê-lo. Para mim o mais importante é que o resultado seja interessante, e não que se aproveite tal ou qual característica da ferramenta ou da Rede. Pretendo que o instrumento faça o que quero, embora possa fazer com ele muitas outras coisas que não faço.

 

Officina - Nas suas fotos que eu conheço, a do sítio e a do "Paris Connection", há sempre um tom brincalhão, alegre e otimista em sua face. E a sua poesia também conserva esse traço lúdico, leve, alegre, mas igualmente muito reflexivo. Essa é a sua atitude para com a vida e para com a poesia?

AMU - Pelo menos cuido que assim seja. Contudo devo confiar-lhe algo. As fotos que viu foram todas tiradas há um ano e meio atrás em uma mesma sessão. Havia sofrido um acidente de bicicleta e havia machucado o rosto, porém ao rir não se notava. Por isso você me vê sempre sorrindo e de meio perfil.

 

Officina - Falando em "Paris Connection", lembrei-me de lhe perguntar outra coisa, pois tenho observado um bom domínio do inglês e do francês, além, é claro, da língua espanhola. A tradução, para você, também é uma forma de aprimorar a poesia em sua língua pátria?

AMU - Traduzi vários livros de diferentes idiomas por necessidade. Fora disso, os idiomas sempre me interessaram. Quando estudava Filosofia e mesmo depois, fiz cursos de hebreu e um pouco de japonês, idiomas que quase esqueci por completo, mas que poderia retomar dentro de alguns dias de leitura, pois esquecemos as palavras mas não o mecanismo da língua. Mas, na realidade, o que prevalece em minha poesia é o elemento visual, e neste momento gostaria muito poder dominar as intimidades de alguma escrita que não fosse a romana.

 

Officina - A sua capacidade de síntese impressiona: em poucas palavras você apresenta um mundo. Não é apenas uma postura de uma poeta de origem concretista, ou de grande tendência para a poesia visual, e igualmente eletrônica. O inesperado, o "insight", a admiração são aspectos marcantes que os leitores, eletrônicos ou não, encontram na sua poesia. Fale-me um pouco sobre isso.

AMU - Se há um "insight", ele provém das próprias letras, de sua identidade secreta, que se me revela quando menos espero.

 

Officina - Em "Letters Themselves", você falou um pouco sobre as várias leituras que pessoas de diferentes línguas fizeram de sua obra. Nós estamos no Webartery, o egroup coordenado por Jim Andrews, do Canadá. Por meio do inglês, que não é a nossa língua nativa, nós trocamos experiências com pessoas de muitos países. A sua poesia é argentina, mas você se relaciona com a poesia de outros países. O que isso significa para você? A Internet e a WWW são formas de homogeneizar a poesia?

AMU - Na realidade minha poesia não contém elementos exclusivamente argentinos, exceto ocasionalmente, como em Desire, no qual o "s" e o "i" dançam um tango argentino, formando um "sim" aparentemente de aceitação, mas que, numa segunda leitura, é condicional. Nunca esbocei esse tipo de coisas porque nunca me senti ancorada em um tempo e lugar. O que encontro, sim - como dizia na entrevista com Megan Sapnar - é que, dentro de minha obra, o que atrai as pessoas de um âmbito cultural - por exemplo, os países de fala inglesa - não é o mesmo que chama a atenção das pessoas de outras culturas como a minha. Na entrevista menciono Escaleras (1999), que não interessam ao público de fala inglesa, talvez porque não são graciosas. Poderia falar também em Centauros em manada (1998), ignorado em geral tanto por uns como por outros, mas que foi apreciado na Romênia, onde ele foi mencionado num artigo de jornal, e na Rússia, onde foi publicado sobre papel em versão estática.

E quanto à segunda parte de sua pergunta, não creio que a Internet homogeníze a poesia, nem um pouco. Creio, sim, que há um uso estereotipado de certos efeitos de Photoshop ou de Flash, ou certo tipo de interatividade e inclusive de generatividade que traz resultados bastante aborrecidos, porém quando realmente tem uma idéia, imediatamente elimina o que sobra e o clichê.

 

Officina - A barreira das línguas parece que não atrapalha a apreciação da sua poesia, especialmente pelo seu cuidado em verter toda a sua obra para o inglês. Você acha que a poesia eletrônica tende a ser uma poesia "universal", uma poesia "transparente", contendo elementos que podem ser reconhecidos por falantes de outras línguas? Nós poderíamos pensar que há elementos comuns a todos os poetas do mundo?


AMU - Sim, tenho traduzido os títulos para o inglês, e o idioma não é uma barreira para compreender minha obra eletrônica, posto que quase todos os poemas se baseiam em letras e não em palavras. É natural: as referências, se elas existem, são universais. Evidentemente, as diferenças de apreciação provêm das distintas normas culturais.

Porém não diria o mesmo de toda a poesia eletrônica. Há poemas eletrônicos muito universais, como o She, de Duc Thuan, que pode ser entendido por qualquer pessoa, apesar de estar baseado em uma palavra inglesa. Outros, como Seattle Drift, de Jim Andrews, são visualmente tão sugestivos que intuímos seu significado, mesmo que não compreendamos o texto. Também temos poemas sonoros que não requerem a compreensão de nenhum idioma para ser entendidos. Mas a maior parte da poesia eletrônica continua vinculada ao idioma.

 

Officina - Fale-me um pouco sobre as suas experiências com a poesia, a partir do momento em que você passou a usar o computador, a Internet e a Web como formas de comunicação poética.

AMU - Sempre tive um computador ao meu alcance, mas nunca me interessou muito. Em meados de 1997, de regresso de uma viagem à Birmânia, fiquei sem trabalho e, por conseguinte, com muito tempo livre, de modo que resolvi comprar um computador. Com Corelmove, que vinha incluído com a impressora, comecei a fazer as animações, que depois copiava quadro por quadro e pegava em um animador de "gifs". A partir daí, construí meu sítio. O primeiro comentário que recebi dizia: "O que é isso?". Porém não desanimei.

 

Officina - Quando estávamos concluindo a entrevista, recebi, do Eter Panji, o seu livro "El circo: El gran desfile", editado em russo. Seus poemas em espanhol, acompanhados de textos em cirílico, provaram, mais uma vez, a tendência universalizante de sua poesia, especialmente pelo uso da palavra mais como imagem do que significado. O que você gostaria de falar sobre o assunto.

AMU - Emocionou-me ver meu nome em cirílico. E é uma iniciativa muito meritória do Eter, quem de São Petersburgo está editando essa coleção de poesia visual mundial, segundo creio, do seu próprio bolso.

 

Officina - Na foto enviada para fazer parte da entrevista, você está surpresa com alguma coisa, ou está ouvindo alguma coisa interessante. Acho que alguma letra está querendo lhe dizer que ser palavra poética. Acertei? (Estou brincando, certo?)

AMU - Acertou com as letras! Todas queriam estar na foto. Ao fim e ao cabo elas são as protagonistas e não eu.

 

Officina - Agradeço a sua atenção para com um entrevistador tão destreinado como eu. Fiquei mais admirador da sua pessoa e da sua poesia depois desta nossa entrevista. Saiba que, para mim, foi uma honra iniciar essa seção de entrevistas com poetas eletrônicos em "Officina do Pensamento", com a sua pessoa e a sua obra.

Jorge Luiz Antonio


top

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

AN INTERVIEW WITH ANA MARIA URIBE
By Jorge Luiz Antonio


           It is a pleasure for me to initiate the interview section of "Officina do Pensamento" with some poets who use electronic-digital media as a means of poetic communication.

           This poetry is marked by a few features. One of them is the exchange between poets of different countries via email, chat and site surfing. Many of them also use print. They are, above all, poets, whatever their medium. Many participate in collective projects or do collaborative work, and they often know each other only by photo or email.

           My first interview is with Ana Maria Uribe, who lives in Argentina and describes herself as a visual poet who uses electronic media.

           Her printed and electronic work is bilingual: her book "Tipoemas y Anipoemas / Typoems and Anipoems" (2001, Buenos Aires), the two editions of her CD-ROM "Escaleras y otros Anipoemas / Ladders and Other Anipoems" (2001 and 2002, Buenos Aires) and her website "Typoems and Anipoems" (1997-2003), vispo.com/uribe).

           I am grateful to Ana Maria for the Portuguese to Spanish and the Portuguese and/or Spanish to English translations. The translation from Spanish into Portuguese is mine. The interview is in three languages because I would like to share its contents with the readers of "Officina do Pensamento", with our web friends from the Webartery e-group and with the Spanish-speaking world.

* * *

Officina - We have known each other via the Internet for some time. I was going to introduce you to the Webartery group, but Jim Andrews anticipated me. This reminds me of something Komninos Zervos, from Australia, said in 2001, when he was anxious to know the artists and digital poets whose works he admired: "let's face emails". We are all in this web community and we make a lot of friends there. I have already done collaborative work with Fatima Lasay, from Philippines, and with Regina Célia Pinto, from Brasil, whom I do not know except by photo.
Do you think that this web contact is a new source of inspiration for your poetry?

AMU - Rather than being a source of inspiration, getting to know other digital poets via the Internet has helped me a lot in many ways. My source of inspiration - as I say elsewhere - are the letters themselves. I never participated in a collaborative work, although I made pieces for certain websites, like "Zoo", for "The Banner Art Collective" (bannerart.org), and "Deseo - Desejo - Desire" (ce.canberra.edu.au/inflect/01/uribe/eroticos.swf), for Muriel Frega, who was putting up a page on desire. Exchanges in sites like Webartery taught me many things I might otherwise have missed or never tried, such as the use of Director. With it I made a CD-ROM of my work.

 

Officina - This interview is going to be hypertextual, since I want the reader of "Officina do Pensamento" to have access to the interview you had with Megan Sapnar for "The Iowa Review Web": uiowa.edu/~iareview/tirweb/feature/uribe/uribe.html. The title of the interview - "The Letters Themselves" - and the contents are very well structured.
Do you like interviews and do you consider them a way of meditating on your poetry? Since Megan Sapnar's interview did new ideas or poetic projects appear?

AMU - The answer to both questions is yes. Interviews help to define concepts, especially in my case, since I am quite lazy and not prone to theoretical analysis.

And, yes, since that interview there were some changes.

First, my use of matter (i.e., letters) became freer.

The interview took place a year ago, in January 2002. Before that (let us say, until mid 2001) I felt I had a duty to my minimalist aesthetic standards, probably a consequence of the Bauhaus tradition in which I had been brought up. That is why in my works I only used one font, and only two or three characters from this font, e.g., "P" and "R", but never the whole alphabet in one poem. In "The Circus" (vispo.com/uribe/2000/circo/index.html), which I began in the second half of 2001, not only did I start using all the letters of the alphabet, but I even modified their shape. This would have been taboo to me in 1999, something against my principles.

Second, after "The Circus" sound became more important. It is essential in works like "Orchestra Rehearsal" (vispo.com/uribe/2002b/ensayo.html) or "Discipline" (vispo.com/uribe/disciplina2/disciplina.html).

Third, in 2002 poems began to have a plot. There is a timeline with a starting point, a climax and a denouement, however simple it may be. The characters in "Discipline" already appeared in "The Circus", but now they are subject to the tyranny of a very cruel dictator.

Fourth and last, I returned to words.

When I started Anipoems in 1997, I gradually moved from words to letters. Only "Hojas rojas secas" ("Dry Red Leaves", 1997, vispo.com/uribe/leaves2.html) contained words. I found letters could be independent; they had a life of their own. For five years, characters were the heroes of my pieces.

Then I found I was really worried. Would letters also dissolve into smaller and smaller fragments (as words had done) and thereby cease to exist? Instead of being nurtured in the warm womb of the word, would they atomize and disappear forever?

Then I wrote "Deseo - Desejo - Desire", which marks my return to words.

 

Officina - Biographies usually contain other references such as profession or studies, besides works. This is sometimes a way of understanding the work and the author. I would like to know if your academic education contributed to the development of your poetry.

AMU - My academic education ended quite abruptly, when I passed from the strictest upbringing to total freedom. After high school at a convent run by Irish nuns, I studied Philosophy for two years at the Catholic University in Buenos Aires. The third year I applied for two different scholarships, which I got, so I travelled to Europe and settled in France. I was then twenty. After that my main interest was travelling, and I could not again study anything demanding dedication.

It was, however, undoubtedly the environment I was born to which contributed most to the development of my work. My father, besides being a civil engineer, was a writer and art critic. He introduced me to "Diagonal Cero", a magazine devoted to visual poetry which was published here, in La Plata, by Edgardo Vigo. More recently, in 1990, it was he who gave me the "Dictionary of the Khazars", which is so intimately related to hypertext, at a time when I did not dream yet of writing computer poetry. At home these were normal subjects of conversation.



Officina - I know some of your works in different media: a book, two editions of a CD-ROM and your website. Did you publish any other work?

AMU - Given the nature of the genre, I tried different media. For example, "Dry Red Leaves" was one of my old Typoems, typed with a Lettera 22 typewriter in the Pica font, which looked like Courier. Later I started a movie of the poem in 8 mm, which I did not finish, and then a poster, stamped with rubber blocks. Those characters were strange. They were not standard fonts. In 1997, when I bought my first computer and started Anipoems, I copied the poster letters, drawing them one by one with Coreldraw, and thus I made the animated poem. So this work has been around for thirty years in various media and versions.

 

Officina - The structure of your printed work is like that of your e-poetry (CD-ROM or web). It shows a skillful use of technology in the service of poetry. What is the relationship between poetry and technology in your case?

AMU - I describe myself as "a visual poet who uses electronic means". So I am not a full web artist. I am, above all, a visual poet. My oldest web works are animated gifs, and the most recent ones are Flash or Shockwave animations. I have not used yet any interactivity or generativity, because I did not find a good reason to do so. The main thing is an interesting result, and not the use of any specific tool or web feature. I like the tool to do what I want, although I might do with it many other things I don't do.

 

Officina - In the photos I have seen, such as the ones at your site and at "Paris Connection", you have always a playful and optimistic expression. Your poetry also has this ludic, light, merry, but equally reflexive tone. Is that your attitude to life and to poetry?

AMU - Well, at least I keep trying. However, I must tell you something. The photos you know were all taken in one session a year and a half ago. I had had a bicycle accident and I had hurt my face, and I looked better when I smiled or when I turned sidewards.

 

Officina - Regarding "Paris Connection" I want to ask you something else. I see that you have a certain proficiency in English and French, besides, of course, Spanish. Is translation a means of enriching poetry written in your native language?

AMU - I translated several books from different languages out of necessity. Apart from that, I was always interested in languages. When I studied philosophy and even afterwards I learned Hebrew and some Japanese. I have almost completely forgotten these languages but I could easily recapture them after some reading, since one forgets words but not mechanisms. Nevertheless, what prevails in my poems is the visual component, and at present I would like to master the intimacies of some script other than the Roman one.

 

Officina - Your synthesis capability is impressive: in a few words you present a whole world. It is not merely the stance of a concrete poet, or of a poet oriented to the visual or the electronic. The unexpected, "insight", admiration, are outstanding aspects found in your poetry by readers of your printed or web work. Let us discuss this.

AMU - If there is an "insight", it comes from the letters themselves, from their secret identity, which is revealed to me when I least expect it.

 

Officina - In "The Letters Themselves" you mentioned the different ways of reading your work according to the reader's native language. We are both in Webartery, the e-group co-ordinated by Jim Andrews, from Canada. By means of English, which is not our native language, we exchange experiences with people from many countries. Your poetry is Argentine, but you are connected to the poetry of other countries.
What does this mean to you? Do the Internet and the Web homogenize poetry?

AMU - My poetry does not really contain purely Argentine elements, except occasionally, as in "Desire", where the "s" and the "i" dance a tango and compose the Spanish word "si", which suggests acceptance (="yes") but on a second reading may just be conditional (="if").

I never put the matter in these terms, because I do not feel tied to a particular time or place. What I do find in my work is that - as I told Megan - what attracts people from a certain cultural environment - e.g., the English speaking world - is not what captures the attention of people from other cultures like mine. In that interview I mentioned the "Ladders" (1999), which are not noticed by English speakers, perhaps because they are not funny. I might as well speak about "A Herd of Centaurs" (1998). It was ignored by almost everybody in both areas, but it was appreciated in Romania, where it was mentioned in a newspaper review of my work, and in Russia, where its static version was printed.

As regards the second part of your question, I do not believe the Internet homogenizes poetry, not in the least. I do believe, however, that there is a stereotyped use of certain Photoshop or Flash effects, or a certain kind of interactivity and even generativity, which produces rather boring visual results. But when you have a good idea, you immediately eliminate the unnecessary and the cliché.

 

Officina - It seems that the language barrier does not hinder your poetry from being appreciated, and this is probably because you have carefully translated all your work into English. Do you believe that e-poetry tends to be "universal" and "transparent" and that it contains elements that can be identified by people who speak other languages? Do you think it has components that are common to every poet in the world?

AMU - I translated the titles into English. On the other hand, language is no obstacle to understanding my web work because most of the poems are based on letters and not words. This is natural: any references you find there are universal. It is obvious that differences in appreciation stem from the various cultural backgrounds.

Nevertheless, I would not say this about all electronic poetry. Some e-poems are very universal. Anybody can understand Duc Thuan's "She" although it is based on an English word. Jim Andrews "Seattle Drift" is visually so expressive that we sense its meaning even if we do not understand the text. We also have sound e-poems that do not require mastering any language. Most e-poetry, however, is language dependent.

 

Officina - Tell me something about your experience with poetry from the moment you began to use the computer, the Internet and the Web as a means of poetic communication.

AMU - I always had access to computers, but I was never interested in them. In July 1997, after a trip to Burma, I lost my job and I found myself with a lot of free time, so I bought a computer. I started making the animations with Corelmove, which was included with the printer. I then copied them frame by frame and pasted them to a gif animator. After this, I put up the website. The first message I received read: "What is this?" However, I did not give up.

 

Officina - When we were about to finish the interview, I received from Eter Panji your book "The Circus: The Grand Parade", published in Russian. Your poems in Spanish with texts in the Cyrillic script once again proved the universal character of your poetry, which comes from your use of words as images rather than for their meaning. Do you want to comment on this?

AMU - It was nice to see my name in Cyrillic characters. This is one of Eter's very meritorious achievements. He is publishing this world visual poetry collection in Saint Petersburg, financing it, I believe, out of his own pocket.

 

Officina - In the photo you sent for this interview, you seem to be staring in surprise at something, or to be listening to something interesting. Perhaps a letter is telling you that it is poetical. Correct? (Ok, I'm joking.)

AMU - Correct! All the letters wanted to be in the photo. After all, they are the protagonists, not me.

 

Thank you for your attention to such an untrained interviewer. I admire you and your poetry even more after this interview, with which I have the honor of opening this section of interviews with electronic poets at "Oficina do Pensamento".

Jorge Luiz Antonio

top

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ENTREVISTA CON ANA MARIA URIBE
por Jorge Luiz Antonio


           Tengo la gran satisfacción de iniciar la sección de entrevistas de Officina do Pensamento con los poetas que usan los recursos electrónico-digitales como forma de comunicación poética.

           Algunos rasgos básicos caracterizan esa poesía. Uno es la intensa comunicación entre poetas de los más diferentes países a través del correo electrónico, grupos de discusión y navegación en sitios. Una gran parte también usa el medio impreso. Todos ellos son, por sobre todo, poetas, independientemente de los medios que usen. Muchos participan en proyectos colectivos, hacen trabajos en grupo, y muchas veces sólo se conocen por textos y fotos enviados por correo electrónico. Y muchas cosas más.

           Mi primera entrevistada es Ana María Uribe, quien vive en Argentina y se describe a sí misma como una poeta visual que usa medios electrónicos.

           Sus obras impresas y electrónicas son bilingües: el libro Tipoemas y Anipoemas / Typoems and Anipoems (2001, Buenos Aires), el CD-ROM Escaleras y otros Anipoemas / Ladders and Other Anipoems en sus dos ediciones (Buenos Aires, 2001 y 2002) y su sitio Tipoemas y Anipoemas (1997-2003), vispo.com/uribe).

           Agradezco a la entrevistada el haberse ocupado de la traducción del portugués al español y del portugués y/o español al inglés. Yo me encargué de la traducción del español al portugués. Opté por hacer la entrevista en esos tres idiomas para poder compartir el contenido de nuestra charla con los ciberlectores de Officina do Pensamento, con nuestros amigos del e-group Webartery (Canadá y el mundo) y con los pueblos de habla española.

* * *


Officina - Nos conocemos a través de Internet desde hace algún tiempo y casi fui tu presentador oficial para participar en el grupo Webartery, pero Jim Andrews se me anticipó. Eso me recordó una frase de Komninos Zervos de Australia, en 2001, cuando estaba ansioso por conocer los artistas y poetas digitales cuyas obras admiraba mucho: " let's face emails". Estamos todos en esa comunidad electrónica y hacemos muchos amigos a través de ella. Yo, por ejemplo, ya hice varios trabajos artísticos con Fatima Lasay, de Filipinas, y con Regina Célia Pinto, de Brasil, sin conocerlas a no ser a través de fotos.
¿Crees que ese contacto electrónico trae nuevas inspiraciones para tu poesía?

AMU - Más que darme inspiración, conocer otros poetas digitales a través de la Red me enseña cosas que ignoro, pues, como digo en otra parte, la inspiración a mí me viene de las letras mismas. En realidad, nunca hice una obra en colaboración, aunque sí realicé algunos trabajos especialmente para distintos sitios, como Zoo para The Banner Art Collective (bannerart.org) y Deseo - Desejo - Desire (ce.canberra.edu.au/inflect/01/uribe/eroticos.swf), para Muriel Frega, quien estaba armando una página sobre el deseo. El intercambio en lugares como Webartery me hizo ver una serie de cosas que de otro modo quizás no habría conocido o probado nunca, como Director, con el que hice un CD-ROM de mi obra.

Officina - Esta entrevista va a ser hipertextual, porque pretendo que el lector electrónico de Officina do Pensamento también tenga acceso a la entrevista que le concediste a Megan Sapnar para The Iowa Review Web: uiowa.edu/~iareview/tirweb/feature/uribe/uribe.html.
El título de la entrevista - The Letters Themselves - y el contenido están muy bien elaborados.
¿Te gustan las entrevistas y las consideras una forma de reflexionar sobre tu poesía? ¿Desde la entrevista con Megan Sapnar sugieron nuevas ideas o propuestas poéticas?

AMU - La respuesta a ambas cosas es sí. Las entrevistas ayudan a fijar conceptos, sobre todo en mi caso, ya que soy bastante haragana y poco dada a las elaboraciones teóricas.

Y, sí, desde aquella entrevista hubo algunos cambios.

Primero, mi uso de la materia (es decir, las letras) se hizo más libre.

La entrevista fue a comienzos de 2002, o sea hace un año. Antes (digamos hasta mediados de 2001) me sentía un poco obligada hacia mi formación minimalista, posiblemente derivada de la estética de la Bauhaus en la que me crié. Por eso en mis obras aparecía un solo tipo de caracteres, y apenas dos o tres de éstos, vale decir, por ejemplo, una P y una R, pero nunca todo el abecedario en un mismo poema. Con El circo (vispo.com/uribe/2000/circo/index.html), que realicé a partir de la segunda mitad de 2001, no sólo empecé a usar todo el alfabeto, sino que inclusive modifiqué la forma de las letras, lo que habría sido tabú para mí en 1999, algo así como una falta de rigor.

Segundo, a partir de El circo el sonido comenzó a adquirir mayor importancia, hasta que se vuelve imprescindible en obras como Ensayo de orquesta (vispo.com/uribe/2002/ensayo.html) o Disciplina (vispo.com/uribe/disciplina/disciplina.html).

Tercero, en 2002 los poemas comienzan a tener una trama. Hay una línea de tiempo con un comienzo, un punto culminante y un desenlace. En Disciplina, los personajes son los mismos que ya aparecían en El circo, pero aquí están sometidos a la tiranía de un cruel dictador.

Cuarto y último, vuelvo a la palabra.

Cuando comencé los Anipoemas en 1997, gradualmente fui desplazándome de las palabras a las letras. Sólo Hojas rojas secas (1997, vispo.com/uribe/hojas2.html) contenía palabras. Encontré que las letras podían independizarse; tenían vida propia. Durante cinco años las letras fueron las protagonistas de mis obras.

Entonces comencé a preocuparme. ¿Las letras se disgregarían también en fragmentos cada vez más pequeños - como había ocurrido con las palabras - y dejarían por ende de existir? ¿En lugar de permanecer cobijadas en el cálido seno de la palabra se atomizarían y desaparecerían para siempre?

Entonces surgió Deseo - Desejo - Desire, que señala mi retorno a la palabra.

Officina - Es común que los datos biográficos contengan algunas otras referencias (profesión, formación, etc.) además de las obras. A veces esto representa una forma de entender la obra y al autor. Me gustaría saber, por ejemplo, si tu formación profesional contribuyó a la elaboración de tu poesía.

AMU - Mi formación académica terminó en forma bastante abrupta, cuando pasé de la educación más estricta a la libertad total. Luego del secundario en un colegio de monjas irlandesas, estudié durante dos años Filosofía en la Universidad Católica en Buenos Aires. El tercer año obtuve dos becas que me permitieron viajar a Europa y principalmente a París. Tenía en ese momento veinte años. A partir de allí mi mayor interés estuvo en los viajes, y nunca pude volver a sujetarme a un programa de estudios que me exigiera dedicación.

Pero, sin duda, fue el medio en el que nací el que más contribuyó al desarrollo de mi obra. Mi padre, además de ingeniero civil, era escritor y crítico de arte. Por él conocí la revista Diagonal Cero, dedicada a la poesía visual, que publicaba aquí, en La Plata, Edgardo Vigo. Aun en épocas más recientes, en 1990, fue él quien me regaló el Diccionario de los Jázaros, tan relacionado con el hipertexto, cuando yo todavía ni soñaba con hacer poesía con la computadora. De modo que en casa de mis padres era común hablar de estos temas.

Officina - Conozco algunos de tus trabajos en diversos medios: el libro impreso, dos ediciones de un CD-ROM y tu sitio. ¿Publicaste otras obras?

AMU - Por las mismas características del género, hice distintas pruebas en distintos medios. Por ejemplo, Hojas Rojas Secas fue uno de mis viejos Tipoemas, escritos con la Lettera 22 en el tipo Pica, semejante al Courier. Más tarde quise hacer con él una filmación en 8 mm, que quedó por la mitad, y luego un afiche, para el cual compré sellos de goma con las letras. Eran letras extrañas, que no respondían a ninguna tipografía standard. En 1997, cuando compré mi primera computadora y comencé los Anipoemas, copié las letras del afiche dibujándolas una por una con Coreldraw y armé el poema animado, así que la obra ya cumplió treinta años en distintos medios y versiones.

Officina - Tus poemas impresos presentan una estructura semejante a la de la poesía electrónica (CD-ROM o web) y muestran un dominio de la tecnología al servicio de la poesía. ¿Cuál es para ti la relación entre poesía y tecnología?

AMU - Yo me defino a mí misma como una poeta visual que usa medios electrónicos. Vale decir que no soy una artista web plena. Sigo siendo, ante todo, una poeta visual. Mis obras electrónicas más antiguas son gifs animados, y las más recientes, animaciones Flash o Director. No he usado hasta ahora interactividad ni generatividad, porque no se me ha ocurrido un buen motivo para hacerlo. Para mí lo más importante es que el resultado sea interesante, y no que se aproveche tal o cual característica de la herramienta o de la Red. Pretendo que el instrumento haga lo que yo quiero, aunque pueda hacer con él muchas otras cosas que no hago.

Officina - En las fotos tuyas que conozco - las de tu sitio y la de Paris Connection -tienes una expresión juguetona, alegre y optimista. Y tus poemas también conservan ese aspecto lúdico, liviano y alegre, pero al mismo tiempo muy reflexivo. ¿Es esa tu actitud tanto hacia la vida como hacia la poesía?

AMU - Por lo menos, trato de que así sea. Aunque debo confiarte algo. Las fotos que viste fueron todas tomadas hace un año y medio en una misma sesión. Había tenido un accidente en bicicleta y me había lastimado la cara, pero al reir no se notaba. Por eso me ves siempre sonriendo o de medio perfil.

Officina - Hablando de Paris Connection, olvidé preguntarte otra cosa, pues he observado un buen dominio del inglés y del francés, además de, por supuesto, la lengua española. ¿La traducción es también para ti una forma de adornar la poesía en tu idioma natal?

AMU - Traduje varios libros de distintos idiomas por necesidad. Fuera de eso, los idiomas me interesaron siempre. Cuando estudiaba filosofía y aun después seguí cursos de hebreo y algo de japonés, idiomas de los que he olvidado casi todo pero que podría retomar en parte luego de algunos días de lecturas, pues olvidas las palabras pero no el mecanismo. Pero en realidad, lo que prevalece en mi poesía es el elemento visual, y en este momento me gustaría poder dominar las intimidades de alguna escritura que no fuera la romana.

Officina - Tu capacidad de síntesis impresiona: en pocas palabras presentas un mundo. No es una simple postura de poeta de origen concreto o de una gran tendencia hacia la poesía visual o electrónica. Lo inesperado, el insight, la admiración, son aspectos destacados que los lectores, electrónicos o no, encuentran en tu poesía. Háblame un poco sobre esto.

AMU - Si hay un "insight" proviene de las propias letras, de su identidad secreta, que se me revela cuando menos lo espero.

Officina - En The Letters Themselves hablaste un poco de las diferentes lecturas que las personas de distintas lenguas hacían de tu obra. Ambos estamos en Webartery, el e-group coordinado por el canadiense Jim Andrews. Por medio del inglés, que no es nuestra lengua natal, intercambiamos experiencias con personas de muchos países. Tu poesía es argentina, pero tú te relacionas con la poesía de otras países.
¿Qué significa esto para ti? ¿Internet y la WWW son formas de homogeneizar la poesía?

AMU - En realidad mi poesía no contiene elementos exclusivamente argentinos, excepto ocasionalmente, como en Desire, donde la s y la i bailan un tango formando un "si" aparentemente de aceptación, pero que en una segunda lectura es condicional. Nunca me planteé este tipo de cosas porque nunca me sentí anclada a un tiempo y lugar. Lo que sí encuentro - como decía en la entrevista con Megan Sapnar - es que, dentro de mi obra, lo que atrae a los de un ámbito cultural - por ejemplo, los países de habla inglesa - no es lo mismo que llama la atención de los de otras culturas como la mía. En la entrevista menciono las Escaleras (1999), que no interesan al público de habla inglesa, quizás porque no son graciosas. Podría hablar también de Centauros en manada (1998), ignorado en general tanto por unos como por otros, pero que fue apreciado en Rumania, donde lo mencionaron en un artículo periodístico, y en Rusia, donde fue publicado sobre papel en versión estática.

En cuanto a la segunda parte de tu pregunta, no creo que Internet homogenice la poesía, ni mucho menos. Creo que sí hay un uso estereotipado de ciertos efectos de Photoshop o de Flash, o cierto tipo de interactividad e incluso de generatividad que logra resultados bastante aburridos, pero cuando realmente tienes una idea, inmediatamente eliminas el sobrante y el cliché.

Officina - La barrera idiomática parece no estorbar para la apreciación de tu poesía, especialmente por tu cuidado en traducir la obra al inglés. ¿Piensas que la poesía electrónica tiende a ser una poesía "universal", una poesía "transparente", que contiene elementos que pueden ser reconocidos por quienes hablan otros idiomas? ¿Podríamos pensar que hay elementos comunes a todos los poetas del mundo?

AMU - Sí, he traducido los títulos al inglés, y el idioma no es una barrera para comprender mi obra electrónica, puesto que casi todas los poemas se basan en letras y no en palabras. Es natural: las referencias, si las hay, son universales. Evidentemente, las diferencias de apreciación provienen de las distintas pautas culturales.

Pero no diría lo mismo de toda la poesía electrónica. Hay poemas electrónicos muy universales, como She, de Duc Thuan, que puede ser entendido por cualquiera a pesar de estar basado en una palabra inglesa. Otros, como Seattle Drift, de Jim Andrews, son visualmente tan sugerentes que intuimos su significado aunque no comprendamos el texto. También tenemos poemas electrónicos sonoros que no requieren la comprensión de ningún idioma para ser entendidos. Pero la mayor parte de la poesía electrónica sigue vinculada al idioma.

Officina - Háblame un poco sobre tus experiencias con la poesía, a partir del moneto en que comenzaste a usar la computadora, Internet y la Web como formas de comunicación poética.

AMU - Siempre tuve computadoras a mi alcance, pero nunca me interesaron demasiado. A mediados de 1997, de regreso de un viaje a Birmania, me quedé sin trabajo y por consiguiente con mucho tiempo libre, de modo que resolví comprarme una computadora. Con Corelmove, que venía incluido con la impresora, comencé a hacer las animaciones, que después copiaba cuadro por cuadro y pegaba en un animador de gifs. A partir de allí, armé mi sitio. El primer comentario que recibí decía: ¿Esto qué es? Pero no me desanimé.

Officina - Cuando estábamos terminando la entrevista recibí de Eter Panji tu libro El circo: El gran desfile, editado en ruso. Tus poemas en español, acompañados de textos en cirílico probaron, una vez más, la tendencia universalizante de tu poesía, especialmente por el uso de la palabra más como imagen que como significado. Dime algo sobre esto.

AMU - Me emocionó ver mi nombre en cirílico. Y es una iniciativa muy meritoria de Eter, quien desde San Petersburgo está editando esta colección de poesía visual mundial, según creo, de su propio bolsillo.

Officina - En la foto que me enviaste para esta entrevista, pareces estar sorprendida por algo o estar escuchando algo interesante. Creo que alguna letra está queriéndote decir que es una obra poética, ¿Acerté? (Estoy bromeando, por supuesto.)

AMU - ¡Acertaste con las letras! Todas querían estar en la foto. Al fin y al cabo ellas son las protagonistas y no yo.

Agradezco tu atención para con un entrevistador tan desentrenado como yo. Me hice más admirador de tu persona y de tu poesía después de esta entrevista, con la que tengo el honor de iniciar esta sección de encuentros con poetas electrónicos en Officina do Pensamento.

Jorge Luiz Antonio

top


Typoems and Anipoems
by Ana Maria Uribe